O Banco Central surpreendeu o mercado financeiro ao elevar a taxa básica de juros, a Selic, para o patamar de 15% ao ano, o maior dos últimos 20 anos. Com essa decisão, o Brasil passou a ter uma das maiores taxas reais de juros do mundo, perdendo apenas para a Rússia. A medida foi duramente criticada por setores do governo federal, que consideram a elevação excessiva e prejudicial ao crescimento da economia. Apesar disso, o mercado já trabalha com a possibilidade de cortes na Selic apenas a partir de janeiro de 2026, o que reflete um cenário de política monetária ainda bastante contracionista.
O mercado financeiro, consultado pelo próprio Banco Central, não espera alterações na Selic em 2025. Analistas de mais de 100 instituições projetam que a taxa de 15% será mantida até o fim do ano. Apenas em janeiro de 2026 haveria um recuo, ainda tímido, para 14,75% ao ano. A previsão é de que, ao longo de 2026, a taxa continue em queda gradual, chegando a 12,5% no final do ano. Essa lentidão na redução dos juros reflete o diagnóstico do Banco Central de que ainda há pressão inflacionária relevante e que os efeitos das medidas atuais precisam de mais tempo para se consolidar.
Segundo o próprio Copom, a decisão de manter a taxa Selic em patamares tão elevados é justificada por um cenário de expectativas desancoradas em relação à inflação. O comunicado da última reunião do comitê afirma que será necessário manter uma política monetária contracionista por um período prolongado, até que haja segurança quanto à convergência da inflação para o centro da meta. No entanto, especialistas questionam se essa abordagem não poderá frear demais a atividade econômica e afetar o emprego e a renda das famílias brasileiras.
A crítica mais contundente à alta da Selic partiu da ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. Ela classificou a decisão como incompreensível e exagerada, apontando que uma taxa de juros de 15% é um obstáculo ao crescimento sustentável da economia. O discurso da ministra vai ao encontro da insatisfação de diversos setores produtivos que veem na política monetária atual um entrave à retomada de investimentos e à expansão do crédito. Para esses grupos, o Banco Central estaria agindo de forma excessivamente conservadora diante de um cenário global ainda incerto.
Mesmo com a Selic a 15%, o Banco Central reconhece que o crescimento da economia brasileira segue acima do seu potencial. No relatório mais recente, o Copom admitiu que o chamado hiato do produto ainda é positivo, o que significa que a economia está operando acima da capacidade considerada neutra sem gerar pressões inflacionárias significativas. Apesar disso, a instituição também afirmou que a taxa de juros já está contribuindo para desacelerar a atividade e que os efeitos sobre o emprego devem se intensificar nos próximos trimestres.
A política de juros altos tem como objetivo conter a inflação, que continua acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. As projeções para os próximos anos indicam uma inflação de 5,24% em 2025, 4,5% em 2026, 4% em 2027 e 3,83% em 2028. Todos esses índices estão acima do centro da meta, que é de 3%. O Banco Central, portanto, mira suas ações no horizonte de médio e longo prazo, especialmente a partir do segundo semestre de 2026, quando os efeitos da atual política monetária devem ser plenamente sentidos na economia.
Ao manter os juros elevados por mais tempo, o Banco Central também tenta influenciar o comportamento das expectativas de inflação no mercado. A lógica é que, ao sinalizar firmeza no combate à inflação, a autoridade monetária consiga ancorar as projeções dos agentes econômicos. No entanto, esse efeito depende da credibilidade institucional e da capacidade de comunicação com os diversos setores da economia. A leitura de alguns analistas é que, sem crescimento econômico e geração de emprego, o próprio controle da inflação pode ser prejudicado no longo prazo.
Diante desse cenário, a previsão de corte na Selic apenas em 2026 mostra um ambiente ainda desafiador para a economia brasileira. A política de juros altos continuará impactando diretamente o consumo das famílias, o investimento das empresas e o ritmo de geração de empregos. A expectativa é que o governo e o Banco Central entrem em um período de maior diálogo, buscando alinhar os objetivos de estabilidade econômica com medidas que permitam algum grau de estímulo à atividade. Até lá, o país seguirá convivendo com uma das taxas de juros mais altas do planeta.
Autor: Callister Jozeiros