O assessor especial para assuntos internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Amorim, afirmou que o mundo vive o momento mais perigoso da diplomacia global em décadas, com potencial risco de guerra mundial. A análise de Celso Amorim ocorre diante do avanço simultâneo de dois conflitos: a guerra entre Rússia e Ucrânia e a escalada de violência no Oriente Médio, especialmente após o ataque dos Estados Unidos a instalações nucleares no Irã. O ex-chanceler aponta que, caso esses dois conflitos se conectem estrategicamente, o cenário global poderá sofrer impactos severos, incluindo abalos na economia e nos preços do petróleo.
Para Celso Amorim, a conjuntura internacional atual é ainda mais instável do que episódios clássicos da Guerra Fria, como a crise dos mísseis em Cuba. Segundo ele, o número de atores envolvidos nos conflitos contemporâneos, muitos deles incontroláveis, dificulta qualquer possibilidade de diálogo eficaz. A multiplicidade de interesses, alinhamentos religiosos e disputas geopolíticas impede que se estabeleça um canal diplomático sólido e confiável entre as partes. O alerta de Celso Amorim evidencia a urgência de mecanismos multilaterais de mediação antes que o conflito se generalize.
O recente ataque dos Estados Unidos a alvos nucleares iranianos, ocorrido no sábado, foi duramente criticado por Celso Amorim, que classificou a ação como uma grave violação do direito internacional. Para ele, a justificativa de autodefesa preventiva alegada por Israel e agora também sugerida pelos Estados Unidos não encontra respaldo na Carta das Nações Unidas. Essa postura, segundo o diplomata, representa uma quebra das normas internacionais que deveria preocupar a comunidade global e servir de alerta para outras potências.
Celso Amorim também criticou a postura americana quanto ao programa nuclear iraniano, relembrando o esforço diplomático realizado pelo Brasil há 15 anos, em parceria com a Turquia, para construir um acordo de confiança com Teerã. Na época, o Irã aceitou condições negociadas, mas o processo acabou sendo enfraquecido pelos próprios Estados Unidos. Para ele, esse vácuo nas negociações acabou estimulando o avanço do enriquecimento de urânio por parte do Irã. Celso Amorim afirma que já ouvia em 2010 que o país teria a bomba nuclear em seis meses, algo que nunca se concretizou.
A posição de Celso Amorim sobre o Irã reforça a ideia de que, mesmo com o bombardeio recente, é pouco provável que Teerã desista de seu programa nuclear de caráter pacífico. Segundo o assessor, a única saída viável para a paz na região seria a proposta do Egito de transformar o Oriente Médio em uma zona livre de armas nucleares. A diplomacia brasileira, portanto, mantém uma linha de atuação que aposta no diálogo e na não proliferação nuclear como alternativas ao confronto direto.
A tensão crescente também afeta diretamente o planejamento da Cúpula dos BRICS, marcada para julho no Rio de Janeiro. Celso Amorim reconhece que o tema dos conflitos internacionais poderá entrar na pauta, mas pondera que ainda é incerta a posição de países como Irã e Rússia dentro do bloco. A falta de homogeneidade nas opiniões dos países membros pode dificultar uma resposta unificada diante da escalada militar no Oriente Médio. Ainda assim, o diplomata acredita que uma ação coordenada dos BRICS poderia contribuir para uma descompressão do cenário atual.
O posicionamento de Celso Amorim reflete a visão do governo Lula sobre o papel do Brasil na geopolítica internacional. Em vez de adotar uma retórica belicista ou de alinhamento automático, o país aposta em iniciativas diplomáticas e condena ações que violem as normas da ONU. A nota emitida pelo Itamaraty condenando os ataques americanos ao Irã reforça esse posicionamento, e o discurso de Celso Amorim complementa a estratégia brasileira de buscar protagonismo pacificador em um mundo marcado por tensões explosivas.
O alerta de Celso Amorim sobre o risco de guerra mundial é, acima de tudo, um chamado à responsabilidade da comunidade internacional. Em um momento em que os sistemas multilaterais são colocados à prova e as instituições internacionais parecem fragilizadas, é fundamental que diplomatas experientes e governos comprometidos com a paz ajam com rapidez e prudência. A análise do assessor especial da Presidência expõe o grau de instabilidade global e a necessidade urgente de respostas coordenadas que evitem o pior cenário: o de uma guerra com proporções globais.
Autor: Callister Jozeiros