A inteligência artificial tem revolucionado a forma como a comunicação política é feita no Brasil, e essa transformação está sendo intensificada por uma aliança entre as Big Techs e o Partido Liberal (PL). No recente seminário realizado em Fortaleza, ficou claro como as ferramentas de IA estão sendo usadas para capacitar apoiadores a criar narrativas e conteúdos digitais que ampliam o alcance político. A comunicação política baseada em inteligência artificial não só oferece novas possibilidades de engajamento como também levanta questões sobre ética, transparência e regulação.
Durante o evento do PL, representantes das principais empresas de tecnologia, como Meta e Google, mostraram como a inteligência artificial pode ser usada para produzir textos, imagens e vídeos personalizados para campanhas digitais. O uso dessas ferramentas tem como objetivo não apenas facilitar a criação de conteúdo, mas também maximizar o impacto das mensagens políticas nas redes sociais. O ensino prático sobre a utilização dos chamados “prompts” para gerar conteúdo com IA revelou uma estratégia focada em ampliar a presença digital dos apoiadores do partido.
Entretanto, a comunicação política via inteligência artificial enfrenta barreiras regulatórias importantes. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) estabeleceu regras claras contra o uso indiscriminado de deepfakes e de conteúdos gerados por IA sem rotulagem, especialmente para evitar a disseminação de desinformação durante as campanhas eleitorais. O seminário do PL, no entanto, mostrou uma resistência a essas regras, com palestrantes e líderes do partido criticando propostas de regulação que, segundo eles, ameaçam a “liberdade de expressão” na internet.
Outro ponto crucial que emergiu na discussão foi o Artigo 19 do Marco Civil da Internet, que exige ordem judicial para remoção de conteúdos online. O PL e seus aliados argumentam que a revogação desse artigo pelo STF poderia levar à censura digital, equiparando essa regulação a um “Ministério da Verdade”. A controvérsia revela como a comunicação política atual não é apenas uma questão de tecnologia, mas uma batalha ideológica sobre os limites do controle e da liberdade nas redes sociais.
O seminário destacou ainda a importância estratégica do WhatsApp Business e outras ferramentas digitais para a disseminação rápida e eficiente de mensagens políticas. A comunicação política no Brasil tem se beneficiado de redes sociais que facilitam o contato direto entre políticos e eleitores, mas isso também pode abrir espaço para campanhas automatizadas e manipulação de informações, especialmente quando apoiadas por inteligência artificial. O desafio é encontrar um equilíbrio que preserve a democracia sem tolher o uso da tecnologia.
Além das práticas de comunicação política, o evento refletiu a crescente influência das redes sociais no cenário eleitoral brasileiro. Jovens políticos e influenciadores digitais, que conquistaram espaço graças ao poder das redes, reforçaram a ideia de que o futuro das campanhas está intrinsecamente ligado à inteligência artificial e ao marketing digital. Essa nova realidade exige que partidos e eleitores entendam os impactos dessas ferramentas para além da simples divulgação de mensagens.
Finalmente, a relação entre as Big Techs e o Partido Liberal evidencia uma tendência global: o uso de tecnologia avançada para moldar narrativas políticas e influenciar comportamentos eleitorais. No Brasil, essa dinâmica se manifesta de forma intensa e controversa, suscitando debates sobre regulação, ética e a preservação da verdade no ambiente digital. A inteligência artificial na comunicação política promete continuar sendo um tema central para as eleições que se aproximam.
Em suma, a comunicação política impulsionada pela inteligência artificial representa uma mudança profunda no cenário eleitoral brasileiro. A parceria entre Big Techs e o PL destaca como a tecnologia pode ser usada para fortalecer campanhas, mas também traz desafios importantes para a democracia. A discussão sobre liberdade, regulação e transparência no uso da inteligência artificial deve estar no centro dos debates políticos nos próximos anos.
Autor: Callister Jozeiros