O Brasil caminha para consolidar uma transformação na forma de ver e apoiar o audiovisual mediante políticas que o inserem no contexto mais amplo da industrialização. Essa mudança traduz uma nova visão estratégica onde o audiovisual deixa de ser apenas expressão cultural para assumir lugar de destaque no desenvolvimento econômico, tecnológico e social do país. A articulação entre cultura, inovação e produção técnica tem sido ampliada, mostrando que há espaço para que produções nacionais tenham relevância internacional, novos mercados e sustentabilidade, tanto ambiental quanto financeira.
Uma das estratégias centrais é incorporar o setor audiovisual nos mecanismos de fomento que antes atuavam com escopo limitado ao cinema, à música ou artes plásticas. Agora, instrumentos como linhas de crédito especiais, apoio fiscal e políticas regulatórias passam a considerar obras audiovisuais não apenas como manifestações culturais, mas como parte integrante da cadeia produtiva industrial. Isso possibilita melhor estruturação de editais, incentivos fiscais mais claros e segurança jurídica para quem produz, distribui ou exibe conteúdos, além de favorecer a participação do audiovisual nos programas de inovação digital e infraestrutura de produção.
A inovação tecnológica tem papel essencial nessa nova fase. A digitalização, transmissão via streaming, adoção de soluções de pós-produção avançadas, uso de inteligência artificial em edição e legendagem, motion capture e efeitos visuais, tudo isso contribui para elevar padrões de qualidade, reduzir custos e agilizar processos. Também favorece que produções menores ou de regiões periféricas possam disputar visibilidade com produções maiores, já que o alcance digital quebra barreiras geográficas. Dessa forma a tecnologia passa a ser ponte entre o talento criativo e o público amplo.
Outra dimensão importante é a formação de mão de obra especializada. Para que o audiovisual se beneficie das diretrizes de industrialização é preciso investir em escolas técnicas, cursos superiores, oficinas regionais e capacitação permanente. Isso inclui desde operação de equipamentos até direção, roteiro, produção e distribuição. O aprendizado também deve estar alinhado às demandas da internacionalização, à profissionalização dos estúdios e à adequação às normas técnicas internacionais.
Parcerias institucionais aparecem com força nesse cenário. Governo, empresas privadas, plataformas de streaming, produtoras independentes e agentes culturais precisam trabalhar juntos. Há espaços para cooperação público‑privada que viabilizem estúdios regionais, laboratórios de inovação audiovisual, redes de difusão cultural e festivais que valorizem produções locais. Esse tipo de articulação contribui para descentralizar produção, gerar emprego em diferentes regiões e estabelecer cadeias produtivas mais robustas.
Políticas regulatórias são chave para ajustar o ambiente legal às novas realidades. Estabelecer cotas de exibição, regras para conteúdos em streaming, exigências de conteúdos nacionais em plataformas digitais, marcos para direitos autorais e mecanismos para proteção contra pirataria são medidas que favorecem quem produz localmente. Esses instrumentos regulamentares garantem que o investimento no setor audiovisual tenha respaldo legal e previsibilidade.
O financiamento também precisa ser multifacetado. Além de subsídios e fundos públicos, é importante estimular investimentos privados, investidores-anjo, fundos de capital de risco dedicados ao setor criativo, mecanismos de antecipação de receitas e parcerias internacionais. Isso reduz a dependência exclusiva do poder público, amplia possibilidades de escala e permite que produções ousadas encontrem viabilidade econômica.
No fim o desafio é que essa convergência entre audiovisual e industrialização seja sustentável, inclusiva e que reflita a diversidade cultural brasileira. É necessário que o processo contemple regiões fora dos grandes centros, que haja visibilidade para vozes marginalizadas, equidade de gênero e raça, e que os resultados não sejam apenas artísticos mas também socioeconômicos, gerando emprego, exportações, fortalecimento de identidade. Assim o audiovisual brasileiro se insere não apenas como expressão cultural, mas como força motriz de inovação, economia e projeção internacional.
Autor: Callister Jozeiros